CARPE DIEN

domingo, 9 de setembro de 2012

Descolonização Afro-Asiática



Descolonização Afro-Asiática Após a Segunda Guerra Mundial, dois blocos se confrontavam na Guerra Fria, o bloco Capitalista (EUA) e o Socialista (URSS). Enquanto isso, as nações-metrópoles européias, concentradas em sua recuperação, observavam a derrocada dos seus impérios coloniais na África e Ásia. As potências imperialistas européias, enfraquecidas pelos efeitos mais gerais da Primeira Guerra, crise de 1929 e Segunda Guerra, não conseguiram barrar os processos emancipacionistas coloniais. Ao longo do pós-guerra, a população colonial começou a identificar as contradições existentes entre os princípios propagados pelos colonizadores europeus e suas práticas políticas e administrativas. Esses fatores conjugados estimularam os movimentos de descolonização e de luta pela autodeterminação. Diferentemente do processo emancipacionista ocorrido nas Américas (séculos XVIII-XIX), que tinha apenas um caráter político-jurídico, o nacionalismo afro-asiático do século XX, tinha também um conteúdo econômico-social, reagindo não só ao colonialismo, mas também ao racismo e ao imperialismo. A eclosão do processo de descolonização trouxe uma estratégia dos países que emergiam no continente africano e asiático. Em Bandung (1955), na Indonésia, reuniram-se 29 desses países que se apresentavam naquela conjuntura como o terceiro mundo. Pronunciaram-se pelo socialismo e neutralismo, como também contra o ocidente (EUA e Europa) e contra a URSS, e proclamaram o compromisso de povos liberados de ajudar a libertação dos povos dependentes. O espírito de Bandung permaneceu por mais de uma década alimentando movimentos de libertação. Contudo, esse posicionamento da conferência de Bandung não deu aos movimentos de libertação uma uniformidade. Isto resultou da própria forma de colonização, feita por metrópoles diversas que impuseram nos seus domínios costumes e valores diferentes. Por isso, a independência afro-asiática foi marcada por caminhos opostos, pacíficos ou violentos. Cada processo teve uma situação peculiar determinada pela situação de cada colônia e pela posição da respectiva metrópole a respeito da independência. 1. A África Uma das primeiras conseqüências da Segunda Guerra Mundial foi a emancipação política dos antigos povos coloniais, particularmente na África e na Ásia. Tanto num como noutro continente, as antigas colônias européias participaram ativamente do conflito, lutando, ombro a ombro, ao lado de suas metrópoles contra o inimigo comum. No decurso dos vários anos de guerra, várias dessas colônias foram subitamente abandonadas à sua própria sorte e tiveram de enfrentar sozinhas situações de extrema necessidade, o que as forçou a uma experiência de autonomia. Finda a guerra, a Europa viu-se enfraquecida, obrigada a aceitar a ajuda das superpotências, os EUA e a URSS, as quais começaram a disputar entre si áreas de influência na Ásia e na África, estimulando o processo de descolonização. Ao mesmo tempo, a elite intelectual das diferentes colônias afluía, em número cada vez maior, aos grandes centros universitários, não só europeus como americanos, inteirando-se dos ideais de liberdade,sobretudo daqueles expressos na Carta das Nações Unidas e na Declaração Universal dos Direitos do Homem. Todo esse conjunto de fatores levou os povos afro-asiáticos a exigirem que seus direitos à liberdade e à autonomia fossem reconhecidos e conduziu-os à dissolução dos antigos impérios coloniais. Até 1950 existiam na África apenas quatro países independentes: a Etiópia, a Libéria, o Egito e a República Sul-Africana. Entre 1951 e 1958, conquistaram sua independência, no continente africano, a Líbia (1951), o Sudão (1956), o Marrocos (1956), Gana (1957) e Guiné (1958).




Após a Conferência de Bandung (Indonésia, 1955), onde foi aprovado o princípio da coexistência pacífica e dos direitos à autonomia e à liberdade dos países africanos e asiáticos,o ritmo de descolonização e o processo de independência aceleraram-se consideravelmente, na África, a partir de 1960. Muitas das antigas colônias européias adotaram nomes nativos; por motivos de dissensões ou de conflitos internos, algumas delas desmembraram-se em novos países.



 Algumas dessas dissensões internas não chegaram a se concretizar como desmem-bramentos, mas se destacaram pela guerra violenta e pela participação de forças externas, tais como: a tentativa de Katanga de se seccionar do Zaire, ex-Congo Belga (1960–1965), e a de Biafra de se seccionar da Nigéria (1967–1970). As colônias portuguesas foram aquelas que mais tiveram de lutar pela sua independência, uma vez que o regime salazarista de Portugal negava-se a qualquer diálogo no sentido de autonomia das colônias. Somente após a queda do regime (1974), foram possíveis os entendimentos para a independência de Moçambique (25 de junho de 1975) e de Angola (10 de novembro de 1975). Um dos grandes problemas da África atual é a posição adotada pela República Sul-Africana e pelo Zimbábue (antiga Rodésia). Enquanto, na maioria das colônias, o branco praticamente se retirou, entregando o poder aos negros, naqueles dois países, a independência foi feita pelos próprios brancos, que permaneceram no poder e não reconheceram os direitos da maioria negra. Por essa razão, vêm sofrendo pressões da ONU e dos demais países africanos. 2. Ásia Na Ásia, o processo de descolonização foi bem mais complexo e as conseqüências repercutem ainda em nossos dias. As Ilhas Filipinas puderam chegar pacificamente à sua autonomia em 1946. Em 1947, a Índia, a mais importante das antigas colônias britânicas na Ásia, tornou-se independente graças à atuação de Mahatma Gandhi, usando o princípio da não-violência, subdividindo-se, porém, a seguir, em República da Índia e República do Paquistão. Ainda em 1947, a Inglaterra concedeu independência à Birmânia. A Holanda viu-se compelida a reconhecer a independência da Indonésia em 1949. Convém lembrar agora que, em 1949, após a vitória do regime comunista na China, esta dividiu-se em República Popular da China e China Nacionalista (Formosa). A presença das duas Chinas é ainda um ponto de tensão no Oriente, embora, em 1971, a República Popular da China tenha sido admitida na ONU em detrimento da China Nacionalista. O surgimento da China comunista alterou sensivelmente o quadro das relações entre os povos do Oriente. Já em 1950, interferiu na Guerra da Coréia, ao lado da Coréia do Norte. Pouco tempo depois, passou a interferir também na Guerra do Vietnã, a favor do Vietnã do Norte (comunista), apoiado pelos russos, contra o Vietnã do Sul, apoiado pelos americanos. A Guerra do Vietnã foi uma conseqüência direta do processo de descolonização da Ásia. Após prolongadas lutas, a antiga Indochina francesa conseguiu finalmente a sua independência em 1954, mas se desmembrou em Laos, Camboja e Vietnã. Neste último, desencadeou-se a guerra civil entre o Vietnã do Norte, controlado pelos comunistas e recebendo apoio da URSS e da China, e o Vietnã do Sul, que recebeu apoio dos EUA. Essa guerra se transformou num dos mais violentos conflitos do mundo contemporâneo (1963-1973). A retirada das tropas americanas do Vietnã e as conversações em Paris permitiram o estabelecimento da paz em 1973, mas o desfecho final se deu em 1975, quando o Vietnã foi unificado dentro do regime comunista.

A Guerra do Vietnã terminou por envolver também o Camboja e o Laos. Nesses países, as forças em choque foram as mesmas da Coréia e do Vietnã. O resultado final foi o avanço, na Ásia, de regimes comunistas.

Em 1975, instalou-se no Camboja um Estado socialista, criando a República do Khmer; e, no Laos, foi instalada a República Democrática Popular do Laos, também adotando a linha socialista. Apesar do auxílio da URSS para o desenvolvimento da China, as relações amistosas entre os dois países começaram a se alterar a partir de 1959. Nesse ano, a URSS anulou o acordo de cooperação no campo atômico, porém não conseguiu impedir que, em 1964, a República Popular da China explodisse sua primeira bomba atômica. As dissensões entre as duas potências chegaram até a ataques armados em torno da região de Ossuri (2 a 15 de março de 1969). Entretanto, o afastamento das duas nações comunistas permitiu uma aproximação entre a China e os EUA, e deste com a URSS, resultando em mais equilíbrio e maior distensão na política internacional. Exercícios Resolvidos 01. (Fuvest-SP) A doutrina de Gandhi está sintetizada nestas palavras, dirigidas a um inglês: “Para fazer triunfar a nossa causa, estamos dispostos a derramar o nosso sangue – não o vosso”. a) Qual era a causa de Gandhi? b) Quais os princípios fundamentais de sua doutrina? Resposta a) A Independência da Índia em relação ao colonialismo britânico. b) Não-violência, desobediência civil e resistência passiva. 02. Por que motivo os países colonizados intensificaram suas lutas pela independência após a Segunda Guerra? Resposta Aproveitando-se da debilitação dos países colonizadores da Europa e do Japão, as colônias na Ásia e na África intensificaram as lutas para obterem sua independência. 03. O que foi a Conferência de Bandung? Resposta Movidos por interesses políticos, econômicos e sociais comuns, vários novos países africanos e asiáticos reuniram-se em Bandung, na Indonésia, e estabeleceram uma linha de atuação, defendendo o direito à autonomia e à liberdade dos povos africanos e asiáticos e o princípio da coexistência pacífica.



A conferência de Bandung A conferência afro-asiática discutiu os problemas dos povos dependentes, do colonialismo e dos males resultantes da submissão dos povos ao jugo do estrangeiro, à dominação e à exploração deste último. A Conferência está de acordo: 1) Em declarar que o colonialismo, em todas as suas manifestações, é um mal a que deve ser posto fim imediatamente; 2) Em declarar que a questão dos povos submetidos ao jugo do estrangeiro, ao seu domínio e à sua exploração constitui uma negação dos direitos fundamentais do homem, é contrária à Carta das Nações Unidas e impede favorecer a paz e a cooperação mundiais; 3) Em declarar que apóia a causa da libertação e independência desses povos; 4) E em apelar para as potências interessadas para que elas concedam a liberdade e a independência a esses povos...

Declaração de Bandung, in Freitas, Gustavo de. 900 textos e documentos de História.V. III, Lisboa. Plátano, 1976, p.348. Descolonização A Índia obtém a independência no dia 15 de agosto de 1947. É uma das datas mais importantes da descolonização: nesse dia, várias centenas de milhões de homens passam da dependência à emancipação. Ao mesmo tempo, porém, a Índia perde a unidade. Essa unidade, que a Grã-Bretanha realizara no interior das fronteiras, não resistiu à independência. As forças centrífugas serão mais fortes do que a vontade de permanecer unidos. Até certo ponto, isso é conseqüência da política britânica, que, para enfrentar as reivindicações dos indianos, sempre encorajara em tudo os muçulmanos, cujo número equivalia a cerca de um quinto da população do subcontinente indiano. Ora, tendo organizado a Liga Muçulmana, chefiada por um líder cujo prestígio fazia contrapeso ao de Gandhi, o Dr. Jinnah, e não querendo ser minoria num estado indiano, os muçulmanos reivindicam a independência. Da incapacidade dos dois partidos de se entenderem resulta a cisão. A Índia desmembrava-se em vários Estados: a Índia propriamente dita; o Paquistão, o maior estado muçulmano do mundo; a Birmânia e o Ceilão. (...) Bangladesh é o quinto Estado sucessor do antigo Império das Índias. Rémond, René. O século XX. 3.ed., São Paulo, Cultrix, 1982, p. 184.