CARPE DIEN

sábado, 13 de junho de 2009

3ªS SÉRIES - FICHA I - ATAQUE AO WORLD TRADE CENTER

São Paulo, sexta-feira, 21 de setembro de 2001

Número de desaparecidos cresce para 6.333

SÉRGIO DÁVILA DE NOVA YORK Nas últimas 24 horas, aumentou em 911 pessoas o número de desaparecidos no ataque terrorista ao World Trade Center. Segundo números de ontem da prefeitura de Nova York, a polícia contabiliza 6.333 pessoas que ainda não entraram em contato com parentes e amigos desde o dia 11."O número está maior porque acabamos de receber as listas de todos os consulados estrangeiros na cidade", disse o prefeito Rudolph Giuliani. "Deve aumentar ou diminuir nos próximos dias, conforme formos detectando prováveis nomes duplicados."Aumentou também o número de feridos, 6.291 pessoas, todas elas, segundo o chefe de polícia, já localizadas pelas famílias. As equipes de resgate encontraram até agora 241 corpos. O número de sobreviventes continua o mesmo desde o dia seguinte ao ataque, 5 pessoas, mas a prefeitura não fala em desistir de procurar."Há uma possibilidade alta de que alguns corpos jamais sejam encontrados", disse o prefeito de manhã em entrevista na TV. ""Mesmo assim, nem que leve semanas, nós vamos continuar procurando por sobreviventes."Pesquisa divulgada ontem mostra que a maioria da população da cidade discorda da cada vez mais crescente onda de partidários dos seis meses extras para o prefeito, cujo segundo e último mandato vence no dia 31 de dezembro.Segundo levantamento do tradicional Instituto da Universidade Marista, 57% dos ouvidos acham que Giuliani deve passar o cargo para seu sucessor na data marcada, contra 33% que pensam que ele deve ficar mais.Para viabilizar a permanência do prefeito além do limite atual, a câmara dos vereadores teria de votar lei emergencial autorizando. Acontece que o presidente da casa, Peter Vallone, é pré-candidato ao cargo de Giuliani.Choveu o dia inteiro de ontem em Manhattan, o que afetou o trabalho de resgate. De novo, as equipes foram retiradas do local, onde só continuaram trabalhando os equipamentos de remoção.Pela manhã, Rudolph Giuliani ciceroneou 40 senadores de Washington que vieram ver in loco os escombros. A excursão cívica se torna cada vez mais rotineira.À tarde, foi a vez de o primeiro-ministro Tony Blair chegar ao WTC. "Há ainda choque e descrença, raiva e medo, mas também um profundo senso de solidariedade", disse o britânico, depois de participar de uma missa.


São Paulo, sexta-feira, 21 de setembro de 2001


EUA alteram lei de imigração
DA REPORTAGEM LOCAL Os EUA anunciaram na última quarta-feira que os imigrantes ilegais que possam ter sido vítimas dos ataques ao WTC não serão enquadrados na lei de imigração.Até então, pela lei, de 1996, nem os ilegais nem suas famílias poderiam receber assistência (jurídica, médica etc.) das autoridades e, quando descobertos, deveriam ser deportados imediatamente.O que o governo fez foi conceder uma espécie de anistia às possíveis vítimas clandestinas dos ataques. Não cabem nessa exceção os demais imigrantes ilegais.A alteração ocorreu no mesmo dia em que o governo norte-americano encaminhou ao Congresso um projeto de lei para fechar o cerco a estrangeiros que estejam em situação oposta: os suspeitos de atos terroristas no país.Nesse caso, o governo quer poder prendê-los e deportá-los sem apresentar nenhuma prova.Ao facilitar a situação das vítimas ilegais, a intenção do governo, de acordo com o anúncio feito pelo porta-voz do Serviço de Imigração Americano (SIN), Daniel Kane, é evitar a subnotificação de desaparecidos e permitir que o país dê amparo a essas famílias.O SIN acredita que algumas dezenas de latino-americanos trabalhavam nas áreas de limpeza e manutenção do WTC e que muitas famílias estão com receio de informar o desaparecimento dessas pessoas, temendo que, se estiverem bem, acabem deportadas.O porta-voz disse ainda que, apesar da anistia oficial, os familiares que preferirem podem procurar os consulados de seus países, que não terão de informar ao SIN a ilegalidade. (SC)

São Paulo, sexta-feira, 05 de outubro de 2001


PISTASFolha tem acesso a registros das chamadas a serviço de emergência de Nova YorkLigações revelam cenas da tragédia
SÉRGIO DÁVILADE NOVA YORK Às 8 horas, cinquenta minutos e 12 segundos da manhã do dia 11 de setembro, uma telefonista do serviço municipal de emergência 911 atendeu o primeiro telefonema vindo do World Trade Center. Ela automaticamente abriu um caso (número 727) e passou a ouvir o que a pessoa tinha a dizer.Era um homem. Afirmava que um avião tinha acabado de entrar numa das torres do complexo. "Possivelmente um avião comercial", disse. Devido à natureza do caso, a funcionária passou a ligação para o Serviço Médico de Emergência do Corpo de Bombeiros do Brooklyn, para onde todas as outras seriam encaminhadas a partir de então.A Folha teve acesso aos registros das ligações. Eles estão sendo usados como prova no tribunal de inquisição que funciona secretamente em Manhattan desde o ataque. A centralização dos telefonemas se deu excepcionalmente no Brooklyn porque, ironicamente, o Centro de Emergência de Nova York ficava no complexo do World Trade Center.Às 8h50m22, uma mulher liga para dizer que o prédio explodiu (não era verdade, a primeira torres só cairia uma hora depois; o que ela descreveu foi a impressão de quem estava vendo o ataque de dentro). Sete segundos depois, outra comunica o mesmo.São telefonemas feitos aos berros, confusos. Às 8h52m53, uma mulher diz que há um grande buraco no lado direito. Às 8h53m28, um homem avisa que alguém se jogou em seu prédio.Os oficiais começam a dar retorno também para o Serviço do Brooklyn. A comunicação entre eles e a central foi gravada por um rádio-amadorista da Califórnia, que divulgou o conteúdo ontem. Os paramédicos Mario Santoro e Keith Fairben avisam que estão entrando na torre norte (foi a última comunicação; ambos estão entre os desaparecidos).Às 8h56m44, um homem diz que se encontra no 87º andar com mais quatro pessoas e que está pegando fogo onde eles estão. Treze segundos depois, um telefonema anônimo do 47º andar diz que o prédio está se mexendo.Os relatos vão se sucedendo. Um deles diz se chamar Hanley e que há fumaça no 106º andar (Christopher Hanley está entre os desaparecidos; estava visitando o prédio naquele dia). Outro, Lutnick, avisa que a fumaça chegou ao 104º agora (Gary Lutnick é o irmão do proprietário da corretora Cantor Fitzgerald, também entre os desaparecidos).Às 9h03, o segundo avião atinge a torre sul. Os telefonemas se multiplicam. Às 9h09m14, uma mulher diz que está no escritório com 60 pessoas e eles não sabem para onde ir. Às 9h09m21, um homem diz que as pessoas estão pulando por um buraco na janela e que ele acredita que ninguém os esteja pegando lá embaixo.Alguém liga e afirma que o teto cedeu no 105º andar. Outra avisa que está grávida e não consegue mais respirar entre a fumaça. Às 9h39m40, uma mulher diz que se chama Melissa, fala que está muito quente e acha que vai morrer. Pede para ligar para sua mãe. A ligação cai antes disso.Às 9h50, a torre sul desaba. Todas as ligações que estavam em andamento no prédio ficam mudas. Mais alguns segundos e começam a pipocar nas telas do centro de emergência vários avisos de "ligação interrompida". Várias atendentes começam a chorar, mas são repreendidas.

São Paulo, quinta-feira, 03 de junho de 2004


CONTARDO CALLIGARIS Paranóias e conspirações
Ainda bem que, de vez em quando, alguém me "informa" direito (as aspas significam que estou sendo irônico; melhor dizer, nunca se sabe).Por exemplo, você sabia que, entre o 11 de setembro de 2001 e o dia dos atentados de Madri, passaram-se exatamente 911 dias? Ora, 9-11 (setembro-11) é, nos EUA, a abreviação da data do ataque ao World Trade Center. Mas não pense que se trate apenas de uma "óbvia" assinatura da Al Qaeda. Não, isso é só o começo: 911 é o número telefônico que, em Nova York, serve para chamar a polícia em caso de urgência. Ironia dos terroristas? Fácil demais. Será que não é um criptograma que revela os verdadeiros autores do atentado? Não é a prova de que foi o governo americano que orquestrou o ataque que justifica a guerra em curso?Você duvida? É porque você não sabe que, de manhã cedo, em 11 de setembro, milhares de judeus que trabalhavam nas torres gêmeas (sempre eles, ah?) receberam telefonemas anônimos exortando-os a não ir para o trabalho naquele dia. Está entendendo?Outro exemplo. Você não estranhou o momento em que o "New York Times" publicou o artigo de Larry Rohter sobre a "preocupação nacional" brasileira com os hábitos alcoólicos do presidente Lula? Foi logo quando o Brasil acabava de ganhar a guerra dos subsídios agrícolas na Organização Mundial do Comércio. Quem tinha interesse em desacreditar o Brasil pelo mundo afora, ah? E se Larry Rohter fosse um agente da CIA há tempo escondido no Brasil para ser ativado de repente na hora de tamanha necessidade estratégica? Aliás, nem é preciso que ele seja um agente, pois é notório (não é?) que a imprensa americana é escrava do complexo político-militar-midiático do império. Rohter pode ter obedecido ao "New York Times", que, por sua vez, deve ter respondido a um daqueles telefonemas do governo que eles recebem a cada dia na hora de decidir a pauta.Ao escutar pacientes paranóicos capazes de delírios organizados, é fácil constatar que um delírio não é necessariamente menos verossímil que outras crenças que não nos parecem delirantes. Por exemplo, a convicção de que Deus exige que os homens se transformem em mulheres para servi-lo melhor é tão verossímil quanto a idéia de que, a cada missa, a hóstia se transforma realmente no corpo de Cristo. A diferença é apenas esta: o projeto de mudar de sexo para servir a Deus não é coletivo, enquanto a transformação da hóstia (a transubstanciação) é uma fé compartilhada.Os delírios são crenças que não conseguem se socializar.Hoje essa diferença se tornou incerta. Graças à internet, qualquer delírio pode se tornar público, circular e conquistar adeptos. Logicamente, este é o argumento decisivo de quem delira: está num site na internet. E, olhe lá, é um site que recebe 12 mil visitantes por dia.Mas a facilidade com a qual os delírios se socializam não explica sua extraordinária proliferação.Em 11 de maio (de novo, o 11, viu?), chegou às livrarias americanas "The Rule of Four" (A Regra de Quatro), de Ian Caldwell e Dustin Thomason. Em duas semanas, o romance já é número três da lista dos mais vendidos. Conta a história de dois amigos que devem descobrir os arcanos de um texto renascentista (que existe e que é mesmo repleto de enigmas não resolvidos) para entender o que acontece ao redor deles e, enfim, salvar a pele. Em princípio, quem gostou de "O Código da Vinci", de Dan Brown (número um da lista há 60 semanas nos EUA e agora número um no Brasil), vai gostar de "The Rule of Four".Os comentadores propõem uma genealogia que começa com "O Nome da Rosa", de Umberto Eco, e continua com esses dois romances recentes. De fato, os três livros têm em comum um gosto pela cultura da Idade Média (no caso de "O Nome da Rosa") ou do Renascimento (para os outros dois), épocas em que o mundo ainda era encantado, ou seja, percebido como um teatro de símbolos e signos que, uma vez decifrados, revelariam que os desenhos da providência divina se estendem, feito vasos capilares, até a periferia da criação. Naquela época, só vivia uma vida sem sentido quem não se desse ao trabalho de resolver as charadas inscritas em cada página do mundo.

São Paulo, domingo, 10 de setembro de 2006


Cinco anos depois, EUA estão mais fracos e sós
Guerra no Iraque foi maior razão da perda de influência do país após o 11 de Setembro
NA MANHÃ DE 11 DE SETEMBRO DE 2001, o mundo assistiu ao maior ataque sofrido pelos Estados Unidos em seu próprio solo. A ação terrorista matou ao menos 2.973 pessoas, derrubou os prédios-símbolo da cidade mais rica do país e teve como autores 19 extremistas armados de bilhetes aéreos só de ida, estiletes baratos e determinação suicida. Aos cinco anos do evento, que serão completados amanhã, a Folha ouviu dezenas de analistas, e as conclusões parecem mais diluídas e menos peremptórias que as feitas no calor da tragédia.Há um consenso, porém: meia década depois, a percepção é a de que os EUA estão mais fracos. Resume o historiador britânico Eric Hobsbawm: "Politicamente, estão mais fracos. Economicamente, não estão mais fortes. E descobriram que seu poderio militar é incapaz de resolver todos os problemas".
Marty Lederhandler-11.set.2001/Associated Press
Vista do Empire State Building com as Torres Gêmeas do WTC exalando fumaça após ataque; pesquisa aponta que um terço dos americanos acredita que Casa Branca esteja "envolvida" nos atentados do 11 de Setembro, que mataram quase 3.000 pessoas SÉRGIO DÁVILADE WASHINGTON
No dia 12 de setembro de 2001, acadêmicos, personalidades e experts de todas as nacionalidades, escolas e tendências arriscavam seus primeiros prognósticos. A "quente", tudo parecia mais definitivo: era o começo do século 21. Era o fim do Império Americano. O início da Guerra Oriente-Ocidente. A falência da aviação comercial como negócio. Houve mesmo quem decretasse, sem ironia, a morte da ironia. Cinco anos depois, enquanto Hobsbawm aponta os limites do poderio norte-americano, outro historiador, o escocês Niall Ferguson, de Harvard, especialista na cronologia de impérios, detecta seus "freios". "Publicamente, os líderes norte-americanos negam que tenham um destino imperial. Mas os EUA são um império -jovem, com freios domésticos, mas império". Diferentemente do que ocorreu com impérios anteriores e mais longevos, porém, os "freios" definem o americano. Déficit recordeSão três, segundo Ferguson: escassez de soldados, déficit orçamentário e déficit de atenção do público. No auge da insurgência no que viria a ser o moderno Iraque, nos anos 1920, havia um soldado britânico para 24 iraquianos; hoje, há um soldado norte-americano para 210 iraquianos. Nestes cinco anos, o país gastou US$ 400 bilhões (ou meio PIB brasileiro) com a chamada "guerra ao terror", o que ajudou a levar o país ao maior déficit de sua história recente. E a opinião pública moderna tem uma "vida útil" de cerca de 18 meses: a mesma maioria que apoiava a intervenção no Iraque em abril de 2003 hoje acha a guerra um desastre. Outra constante nas respostas: o ataque terrorista colocou a nu a política externa norte-americana, que vinha sendo gestada há pelo menos duas décadas e da qual o presidente George W. Bush se tornou apenas a face mais evidente. Para Neil MacFarlane, de Oxford, "a principal mudança é o enfraquecimento das leis internacionais sobre o uso da força". "Desde que os EUA desenvolveram o conceito de defesa preventiva, a principal potência do mundo quer o direito de atacar quem quiser caso se sinta ameaçada", acredita. Ou, como define mais diplomaticamente Rubens Barbosa, que era embaixador do Brasil em Washington no dia 11 de Setembro, "no contexto externo, emerge uma nova agenda mundial, com conseqüências na área política, diplomática e também militar". Joseph Nye, professor de relações internacionais da Universidade Harvard, vê no desequilíbrio dos EUA ao usar seus recursos a origem de seu enfraquecimento global. "Os EUA estão mais fracos porque colocaram ênfase demais no chamado "hard power" (poder militar) e reduziram sua atração em "soft power" (diplomacia e comércio)", diz Nye. O enfraquecimento do país não resulta num fortalecimento de seus inimigos, por paradoxal que pareça. Vários analistas apontam a ação de 11 de Setembro como uma estratégia equivocada da Al Qaeda, grupo terrorista que seria quase dizimado nos anos seguintes pelas forças americanas, embora seu líder, Osama bin Laden, continue vivo, solto e atuante. "Mas a Al Qaeda se beneficiou ao fazer o mundo perceber a agressividade da política externa de Bush entre os muçulmanos, especialmente na Guerra do Iraque, mas também nas ações de Israel nos territórios palestinos e, mais recentemente, no Líbano", acredita Juan Cole, professor de história da Universidade de Michigan e criador do blog liberal Informed Comment. "Isso ajudou a recrutar uma nova geração de radicais." Maior erroA Guerra do Iraque. Se fossem instados a apontar um grande equívoco cometido pelos EUA nesse período, a invasão daquele país seria o vencedor inconteste. "É o fato histórico mais importante", decreta Melani McAlister, da Universidade Georgetown. "O Iraque é um fracasso público que encoraja os inimigos." A intervenção no Iraque é significativa da "fraqueza" norte-americana, diz Maria Regina Soares de Lima, professora de relações internacionais da PUC do Rio. "Na sociedade de massas e da democratização, o custo da conquista estrangeira é muito alto, não bastam a força e a tecnologia militar." Com a "guerra errada" (sendo a "guerra certa" a do Afeganistão, que derrubou o Taleban, que dava guarida à Al Qaeda), os EUA sacaram cedo demais o cheque de solidariedade global que conseguiram logo após o 11 de Setembro. "Você imagina alguém levando flores às embaixadas americanas em algum lugar do mundo hoje?", pergunta Mary Dudziak, organizadora do livro "September 11th in History - a Watershed Moment?" (11 de Setembro na história - um divisor de águas?). Ou, como coloca David Simpson, autor de "9/11 - The Culture of Commemoration" (11/9, a cultura da comemoração), "os EUA destruíram a boa vontade do mundo ao usar o desastre como pretexto para invadir o Iraque. Os episódios de tortura apenas confirmam o fim do papel dos EUA como líder mundial baseado apenas na superioridade moral." O tamanho do equívoco pode ser medido em números. Como resultado dos ataques daquele dia às torres gêmeas, perderam a vida 2.973 pessoas de 23 nacionalidades, brasileira inclusive. Até ontem, 2.659 soldados das Forças Armadas norte-americana haviam morrido em ação no Iraque. O número de mortos deve ser igualado até o fim do ano.